Dia 25 de Julho é o Dia Internacional das Mulheres Afrodescendente, a data foi instituída em 1992 por uma ação da ONU e da Rede de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas. No RS o dia serve para enaltecer as mulheres remanescentes de comunidades quilombolas. No Estado, o trabalho da Emater/RS-Ascar junto aos povos tradicionais têm relação fundamental desde as organizações econômicas às sociais.
Regina Miranda, extensionista e coordenadora de Assistência Técnica e Extensão Rural e Social com Povos Tradicionais Quilombolas da Emater/RS-Ascar, relaciona o Dia da Mulher Negra ao trabalho realizado pela Instituição. O RS possui, atualmente, 142 comunidades remanescentes de quilombos certificadas pela Fundação Cultural Palmares, das quais 87% estão no meio rural. “É o público legítimo das ações de Extensão Rural e Social”, afirma.
Entre os trabalhos das mulheres remanescentes de quilombos, destaca-se a atividade agropecuária, através do modo de produção tradicional quilombola, realizada para consumo próprio e para comercialização. Regina declara que “o artesanato em lã no RS é tecido por mãos negras”, e dá ênfase para as regiões da Campanha e do Litoral Médio, onde o foco está na produção pecuária de Ovinocultura. Além disso, a cultura das mulheres quilombolas preserva espécies de sementes crioulas, mudas e plantas alimentícias. Um resultado, por exemplo, é o preparo de alimentos tradicionais, como o pão feito de milho cateto, semente conservada por essas comunidades.
Regina identifica a “força” da presença de lideranças quilombolas, e declara que, a exemplo da homenagem nacional feita a Tereza de Benguela, o RS é representado pela figura de Dona Ilza, finada quilombola que batalhou e conquistou a primeira titulação de terras quilombolas no Estado, no Quilombo de Casca, em Mostardas, que completa, em 2024, 200 anos, um dos mais antigos territórios negros do Estado. A coordenadora relata que a Emater/RS-Ascar caminhou ao lado de Dona Ilza Lopes Machado e prestou-lhe Assistência Técnica durante o processo. Dona Ilza foi uma liderança pioneira e contribuiu para projetar as lutas quilombolas por reconhecimento territorial e políticas públicas direcionadas às comunidades quilombolas.
“A mulher negra está perpassada, não só pelo racismo, mas também pelo machismo”. Com essa afirmação, Regina explica que, “como pessoas que vivem em contextos de vulnerabilidade e invisibilidade social, as mulheres remanescentes de quilombos sofrem com uma estrutura de violências de estado e doméstica”. A coordenadora aponta que dois a cada três brasileiros em extrema pobreza são negros, e, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, cerca de 65% das vítimas de feminicídio no país são mulheres negras.
Apesar de enfrentarem desafios para sua formalização enquanto agricultoras, as mulheres quilombolas assumem liderança e protagonismo, pois estão à frente de muitas associações que representam suas comunidades, organizadas com apoio da Emater/RS-Ascar.
Ao avaliar se há motivos para comemorar a data, Regina reitera que a organização dessas mulheres está em um movimento crescente, e comenta que um encontro estadual e uma série de encontros regionais de mulheres negras quilombolas serão realizados para consolidar a formalização de uma rede entre elas. A Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), através da Conaq Mulher, estimula que cada estado brasileiro tenha uma organização de mulheres negras. “Dessa forma, nos manteremos ao lado das mulheres negras, apoiando suas organizações econômicas, mas também as organizações sociais dessas mulheres”, ressalta Regina.
De acordo com o IBGE, o RS possui 203 localidades quilombolas, em 75 municípios gaúchos. Já no Brasil, o Levantamento do Censo 2022 identificou 7,6 mil comunidades quilombolas.
Por Assessoria de Imprensa
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